Resenha: Ponte para Terabítia, de Katherine Paterson

PONTE PARA TERABÍTIA

                                                 por Katherine Paterson

ISBN: 8516050521

Tradução: Ana Maria Machado

Ano: 2006

Páginas: 160

Editora: Salamandra

Pontuação: ★★★★★ ♥

 Jess Aarons, um garoto de 10 anos, passou o verão treinando para ser o campeão de corrida da escola. Na volta às aulas, é ultrapassado por uma aluna nova. Os dois tornam-se grandes amigos, e criam um reino imaginário chamado 'Terabítia', onde governam soberanos protegidos das ameaças e zombarias da vida cotidiana. Até que um dia, uma fatalidade os separa, e Jess precisa ser forte para enfrentar essa triste realidade.

Lançado em 1977 nos Estados Unidos, PONTE PARA TERABÍTIA logo ganhou a Medalha Newbery no ano seguinte, tornando-se um clássico moderno da literatura estadunidense. Anos mais tardes, o livro foi adaptado para os cinemas com direção de Gábor Csupó. O elenco contou com Josh Hutcherson, AnnaSophia Robb e Zooey Deschanel.

No Brasil, a primeira edição só foi lançada em 1999 pela editora Salamandra.

Jesse Aarons está se sentindo sozinho. Convivendo diariamente com a mãe e as irmãs e sendo ignorado pelo pai, seus desenhos são sua única forma de escape.

Ellie e Brenda, irmãs mais velhas de Jesse, já nas primeiras páginas se mostram extremamente egoístas ao pedirem dinheiro à mãe para futilmente darem uma escapulida à Millsburg (o shopping da cidade), mesmo sabendo das baixas condições financeiras da família.

Como todos os garotos com espírito artista, Jesse também nutre uma paixão secreta de infância. A sortuda da vez é a Miss Edmunds: a professora hippie/pacifista de música da Escola Primária do Córrego da Cotovia. Em um contexto histórico em que o senso comum é machista, o preconceito em relação ao seu modo de agir (e principalmente se vestir) é inevitável. Entrementes, a sábia reação dela de não se importar talvez seja o que mais atraia a atenção do menino.

Durante todo o tempo nas férias de verão, Jesse treina para se tornar o garoto mais rápido da quinta série.

Leslie Burkes, a nova esquisita vizinha, chega aparentemente para acabar com os sonhos de Jesse ao vencê-lo na primeira corrida do ano. A ironia chega como um súbito estalo: a garota não destrói sonhos; ela os cria! 

Juntos formulam o infinito e o guardam profundamente para si. Juntos - talvez também com uma ajudinha de C.S. Lewis* - formulam Terabítia: um reino mágico, acessível por uma corda que atravessa um rio.

Leslie é, em minha modesta opinião, o brilho do livro. Devo confessar que ela, em todos esses anos de leitura, foi a única quem me fez mergulhar em gotas salgadas. Devido às lágrimas, sou meio suspeito para falar sobre ela.

Inconscientemente, Jess está apaixonado por Leslie. Aquela voz, aquele cheiro, aquele jeitinho único de correr. Os pensamentos do garoto denunciam seus sentimentos.

As aventuras dos garotos em Terabítia, intercaladas por problemas em casa ou na escola, parecem projetadas para uma leitura entusiasmante e sem interrupções. Uma vez iniciada a travessia pela Ponte, dificilmente descansará até chegar à Terabítia.

 Com uma leitura fácil para os pequenos leitores, porém profunda nas entrelinhas, Ponte para Terabítia está entre os mais emocionantes da minha estante.

NOTA
*O nome Terabítia é inspirado em Terabinthia, uma ilha existente no mundo fictício de Nárnia e que é mencionada nos livros "O Príncipe Cáspian" e "A Viagem do Pelegrino da Alvorada", de C.S. Lewis.